Cada fase de vida tem necessidades e desafios específicos que podem ser acompanhados de diferentes formas. Uma das formas de ampliar a saúde mental de adolescentes é fazer terapia. Mas qual seria a adequada? Dá só uma olhada!
Psicoterapia com adolescentes
A psicoterapia com adolescentes possui características peculiares a visa intervir de modo biopsicossocial na vida do jovem. Nessa etapa de vida, o paciente passa por constantes transformações, passando de um corpo infantil para um corpo adulto, auto-erotismo para a hetero ou homossexualidade, além de enfrentar identificações transitórias e um imenso trabalho de ego e autoconhecimento. Todo esse processo exige uma atenta compreensão e uma técnica específica no campo psicoterápico. A tarefa principal da adolescência, segundo Erikson (1971), é o estabelecimento de uma identidade. Isto é, em essência, o processo no qual fica definido um autoconceito relativamente estável e são constituídas as diferenças entre o jovem e seus pares. O adolescente deve definir sua própria maneira de ser, resultante da integração final das identificações da infância com as atuais. A adolescência prepara o jovem para a fase adulta, quando poderá estar capacitado a ter intimidade, especialmente dirigida ao seu parceiro. Assim, configura-se a primeira peculiaridade da psicoterapia com adolescentes.
Habilidades do terapeuta
O terapeuta atendendo adolescentes precisa ter habilidades para envolvê-lo em uma relação próxima e íntima, como a que requer setting terapêutico, em um momento em que o adolescente está tumultuado com inúmeras identificações transitórias e pouco capacitado para a intimidade. Os adolescentes nesta fase passam por três lutos fundamentais: o luto pelo corpo infantil, o luto pelos pais da infância e o luto pelo papel e pela identidade infantil. Compreendem que, inerente ao processo do adolescente, existe um trabalho psíquico de elaboração do luto narcisista; o luto pelo ego infantil. É um período em que há uma intensificação do complexo de Édipo, ligado às modificações corporais, às quais o adolescente deve se habituar.
Fases da adolescência
A adolescência pode ser dividida em seis subfases: a latência, pré-adolescência, adolescência inicial e pós-adolescência. Veja as fases da adolescência:
- Adolescência inicial: ocorre o incremento dos impulsos sexuais e agressivos, consiste em buscar relações extrafamiliares, substituindo as identificações familiares por outras, como amigos e idealizações.
- Adolescência propriamente dita: a libido é dirigida a novos objetos de amor (escolha sexual), sendo um período de reestruturação psicológica com constantes alterações de humor e comportamento rebelde. O ego está fortalecido em relação à etapa anterior, agora com a escolha heterossexual e uma melhor resolução do complexo de Édipo positivo. É a época na qual a conflitiva edípica reemerge com mais intensidade.
- Adolescência tardia: há uma diminuição da rebeldia característica da fase anterior. O ego se estabiliza e a identidade sexual torna-se permanente. Há uma consolidação dos papéis sociais e das identificações pessoais. É a subfase em que o ideal de ego atinge uma estrutura clara e definida
O contato inicial na avaliação do adolescente
A avaliação do adolescente não obedece a regras rígidas e preestabelecidas. O profissional precisa utilizar sua sensibilidade, flexibilidade e criatividade a fim de que possa obter os dados suficientes e estabelecer uma adequada aliança de trabalho.
Observa-se que o adolescente inicial habitualmente nega os seus problemas e pouco percebe os seus sintomas. O adolescente da fase intermediária costuma projetá-los em seus pares e em seus pais, enquanto o adolescente tardio assume melhor as responsabilidades sobre suas ações. Torna-se necessário, portanto, uma abordagem mais ativa por parte do terapeuta com os adolescentes jovens, tendo em vista sua inerente dificuldade de introspecção, enquanto, nas demais etapas, a atitude do terapeuta assemelha-se à que tem com adultos.
A primeira entrevista
Vários fatores podem estar interrelacionados na avaliação diagnóstica. Dentre eles, a necessidade de conhecer bem os níveis de desenvolvimento dessa etapa e sempre considerar uma hipótese diagnóstica como sujeita à modificação, devido ao processo normal de maturação. Toda a avaliação, nessa fase, deve ser parte de um estudo familiar e ambiental e deve incluir uma revisão dos sucessos e das falhas adaptativas no decorrer do desenvolvimento do adolescente. Além disso, deve-se determinar até que ponto a situação em exame corresponde a um processo patológico ou apenas a uma crise vital.
Exame do estado mental
Dessa forma, na psicoterapia da adolescência, avalia-se as funções do ego e inclui dados sobre a aparência; comportamento e atividade psicomotora; atitude frente ao examinador; tipo de relato; expressão de afeto; humor; adequação; sensopercepção; consciência; forma, velocidade e conteúdo do pensamento; linguagem; concentração; memória; orientação no tempo e espaço, auto e alopsíquica; inteligência; julgamento; insight; credibilidade; capacidades adaptativas, e principais mecanismos de defesa utilizados.
A investigação de risco de suicídio, quando o quadro sugerir, é fundamental, levando-se em
conta que o suicídio é uma causa muito comum de morte entre adolescentes de 15 a 24 anos e vem aumentando nas últimas décadas.
Psicoterapia analítica na adolescência
A psicoterapia analítica na trabalha para liberar os pais e o analisando do conluio narcisista com que compactuam e pelo qual padecem, por meio de entrevistas psicanalíticas com os genitores, que tem por objetivo:
- Decifrar as inibições dos sintomas e as angústias no exercício da maternidade e da paternidade;
- Outorgar um lugar à enfermidade do filho no espaço mental de cada um dos genitores, com o fim de poder abrigá-la e não expulsá-la;
- Recortar e articular a problemática do filho dentro da dinâmica narcisista e edípica de cada um dos genitores, do casal e da família.
O terapeuta busca demonstrar seu interesse em que o adolescente vença a batalha do desenvolvimento, deixando claro que não pode fazer por ele, embora possa auxiliá-lo a controlar suas atuações, quando elas se tornarem lesivas ao setting e ao próprio paciente.
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Referência:
CORDIOLI, A.V. e colabs. Psicoterapias: abordagens atuais. Editora Artmed. 3ª edição. 2008.
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