A psicologia desenvolveu muitas possibilidades de intervenção terapêutica, mas suas raízes continuam na psicanálise. Você conhece essa famosa abordagem? Então veja só!
Origem da psicanálise
As raízes da psicanálise e da psicoterapia de orientação analítica estão no trabalho de Sigmund Freud, cujas teorias foram desenvolvidas a partir da observação de pacientes psiquiátricos no início do século 20. Em 1882, Freud se interessou pelo método da hipnose por meio dos relatos do neurologista Breuer.
A Freud interessou a existência de fatos que não podiam ser recordados pela simples vontade do indivíduo, e que geram sintomas e influenciavam no comportamento do paciente, a partir do que Freud estabeleceu o que ele denominou de inconsciente. Com o tempo, Freud foi percebendo limitações ao utilizar a hipnose em seus trabalhos, o que o levou ao desenvolvimento de alternativas para acesso ao que estava fora da consciência, tal como a livre associação de ideias, que se tornou a principal ferramenta da psicanálise. Além disso, Freud postulou que os sonhos também eram um caminho para o inconsciente, uma expressão que apresentava de forma mascarada desejos e fantasias reprimidos.
Ao longo dos anos, uma série de conceitos teóricos foram desenvolvidos e novos preceitos técnicas têm sido descobertos após as contribuições de Freud, visando propiciar uma extensa compreensão sobre os processos mentais, objetivando a aquisição de ferramentas importantes para o alívio e sintomas, diminuição do sofrimento, melhora da qualidade das relações interpessoais, desenvolvimento da criatividade e aumento da capacidade de adaptação biopsicossocial dos pacientes.
Psicanálise e psicoterapia de orientação analítica
Embora, na prática, compartilhem de características, ambas as abordagens encontram-se em pólos diferentes, onde em um pólo está a psicanálise e no outro extremo está a psicoterapia de orientação analítica.
O conflito atual que o indivíduo traz è terapia sempre é resultado da interação entre o conflito primário com fatores advindos da realidade externa ou interpretação que o próprio sujeito dá a ela. Dessa forma, se o conflito atual guarda algum grau de autonomia, ou seja, a possibilidade de modificar o funcionamento atual por meio do entendimento sobre si mesmo e pela utilização de defesas mais maduras, sem a modificação definitiva do conflito primário, é possível tratá-lo por meio da psicoterapia.
Já a terapia analítica indica-se ao tratamento de psicopatologias específicas, tais como transtornos da personalidade obsessiva, evitativa, histérica e narcisista, bem como pacientes com algumas formas de perversão, obtêm notáveis benefícios com tratamento analítico, além de desfechos favoráveis em casos de transtorno de personalidade anti social, depressão e ansiedade também podem ser tratados em conjunto com a psicofarmacologia visando a melhoria na saúde mental de tais pacientes.
Teoria topográfica
Freud descreveu uma divisão da mente que chamou de teoria topográfica, na qual a mente seria dividida em inconsciente, pré-consciente e consciente, havendo um jogo entre as forças opostas do inconsciente (desejos e impulsos) e a parte consciente do indivíduo. Assim, um dos conceitos-chave na psicanálise é o de tornar consciente aquilo que está inconsciente.
O conflito psíquico (que está no inconsciente) é representado simbolicamente pelos sintomas, movimento que passou a ser concebido pelo embate entre as forças instintivas e repressoras. Portanto, com a teoria topográfica, a psicanálise se instaura como nova ciência, com referenciais teóricos e técnicas próprios, específicos e consistentes.
Teoria estrutural
Após a teoria topográfica, Freud elaborou a teoria estrutural em 1923, a qual introduziu as diferentes instâncias psíquicas: ego, id e superego. Assim, para Freud, a mente é como um palco povoado de personagens que se relacionam entre si e são coloridos e construídos a partir do jogo de projeção. Quando nasce, o bebê interpreta a realidade externa a partir da projeção de seus impulsos amorosos e agressivos sobre figuras importantes. Dessa forma, o cuidador é percebido como possuidor de parte desses impulsos (que são originalmente do bebê) e a mistura dessa percepção entre a reação “real” do objeto externo (cuidador) é internalizada como representação daquele objeto no mundo interno. É a partir daí que as percepções subsequentes serão baseadas, ou seja, a partir da projeção das representações dos objetos externos, que são modificadas e retroinjetadas com novas representações ao longo do tempo.
Conceitos-chave da psicanálise
Veja abaixo alguns dos conceitos-chave da psicanálise:
- Inconsciente: considerado a base da psicanálise, consiste nas forças alheias à vontade consciente do indivíduo que acaba determinando as escolhas e pensamentos conscientes que compõem o dia a dia do indivíduo. Fazem parte do inconsciente as fantasias, desejos e impulsos, além das representações internalizadas de relações objetais e os mecanismos de defesa que protegem o indivíduo do contato com aspectos indesejados da realidade externa e do próprio inconsciente.
- Livre associação: a sessão analítica depende do paciente vir às sessões com intenção de falar tudo o que vier à sua mente, mesmo que pareça vergonhoso ou sem sentido, possibilitando ao analista identificar o conteúdo latente (inconsciente) por meio da fala.
- Resistência: se refere às forças profundas e alheias à vontade do indivíduo que impedem o contato com o conteúdo inconsciente.
- Transferência: é a reedição com o analista das relações com objetos do passo, ou seja, a reencenação das relações entre os objetos do mundo interno e o self.
- Contratransferência: considerada um dos principais instrumentos de acesso ao funcionamento psíquico do paciente, pois se trata de uma comunicação de inconsciente para inconsciente.
- Campo analítico: se define como o conjunto todo da relação terapêutica.
- Neutralidade: o analista deve evitar apresentar-se como uma pessoa real na vida do paciente, ou seja, não pode dar conselhos, emitir julgamentos, falar de sua vida pessoal, tomar partido no conflito, punir ou gratificar o paciente, entre outros.
- Interpretação: ferramenta cuja finalidade é tornar consciente o inconsciente, ou seja, toda intervenção que tem por objetivo explicitar o funcionamento psíquico do paciente, evidenciando mecanismos de defesa, o padrão de relações objetais e os conteúdos latentes a partir do material trazido à sessão.
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Referência:
CORDIOLI, A.V. Psicoterapias: abordagens atuais. Editora Artmed. 3ª edição. 2008.
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